Senhor e Você: existe forma correta de falar com Deus nas canções?
- Música Cristã

- 3 de jun. de 2018
- 9 min de leitura
Atualizado: 5 de abr.
Olá! Shalom!
“Posso chamar Deus de SENHOR e de VOCÊ?”
Esse questionamento tem tomado muito espaço em nossas igrejas, tanto em meio aos músicos como também aos não músicos. Por pedidos reais, estamos aqui.
É engraçado que, como em muitos outros assuntos, a comunidade de fé acaba por se dividir dentro de algumas discussões. Aqui, vamos separar em dois grupos: o Grupo do João e Grupo do Kevin. O grupo do João acredita que o tratamento a Deus deve ser feito exclusivamente por “Senhor” e o grupo do Kevin acredita que Deus possa ser chamado também de “Você”.
Dessa forma, buscamos fazer um post bem democrático. Sendo assim, vamos tentar apresentar os argumentos de cada um.
Vamos lá irmãozinho... Não feche esse texto ainda... Vamos ser francos e pensar que muitas vezes, assim como eu, Você de fato tem opiniões certas sobre muitas coisas na sua vida, porém isso não justifica qualquer falta de paciência para tentar compreender a forma como seu irmão pensa. Não é o caso de aceitar todas as opiniões, mas, de ouvir. Vamos chamar isso de “ato de amor”.
Grupo do João
Pois bem. Apresento-lhes o Grupo do João.
Caracterizado por cristãos experientes e que baseiam suas críticas em textos bíblicos. Este grupo tem visto que nos últimos anos (particularmente a partir sec. XXI), a igreja tem passado por uma transformação em termos de sua relação com Deus. Esta passou a ser mais “aberta”, menos eclesiástica e mais livre. Muitos acreditam que isso acabou por afetar a forma como se trata a Deus diretamente, O chamando de “Você”. Segundo os mesmos, isso criaria uma noção de humanização de Deus, tratamento de amizade humana ou, de igual pra igual.
Vamos apresentar os cinco argumentos mais utilizados por estes para defender seu ponto de vista:
1) Podemos observar nos textos bíblicos uma preocupação sempre presente com relação à reverência em que se deve tratar a Deus.
“Sirvam ao Senhor com temor; alegrem-se, mas com temor.” (Sl 2.11)
“Ele disse: ‘Não chegue mais perto! Tire as sandálias dos seus pés, pois o lugar onde está é lugar sagrado’ [...] Moisés cobriu o rosto pois teve medo de olhar pra Deus.” (Ex 3. 5-6)
“Mas o Senhor está em seu santo templo; toda a terra se cale diante dele.” (Hb. 2.20)
“[...] Seu nome é santo e temido - a sabedoria é, em primeiro lugar, o temor do Senhor.” (Sl 111.9-10)
“Portanto, por termos recebido um Reino inabalável, sejamos agradecidos e ofereçamos a Deus um culto que lhe seja agradável, com reverência e temor.” (Hb. 12. 28)
2) Observa-se que Deus é tratado como Deus ou Senhor, com letra Maiúscula no início da palavra. Nesse caso, denota-se que o significado é o de “dono” ou “mestre”.
3) Deus é nosso Pai (Jo 3.16), mas também o Dono da Vinha (Mt 20). Ou seja, somos filhos, mas também servos. Apesar de termos a liberdade de chama-Lo de Pai, é um Pai celestial, logo não se trata de um ser humano e não o devemos tratar como respectivo ou, como qualquer pessoa do nosso convívio. Deve-se notar que o próprio Cristo chama a Deus de Pai.
“Pai nosso que estás nos céus.” (Mat 6.9)
“Pai, peço-te que não os tires do mundo, mas os livres do mal.” (Jo 17.15)
4) A bíblia nos mostra claramente que até mesmo os homens que tiveram um relacionamento mais próximo com Jesus o chamavam de Senhor, Mestre, etc.. e que devemos seguir este exemplo. Em muitos textos os discípulos chamam a Jesus de “Kurios”, isto é, “Senhor” ou “Supremo em Autoridade” (Mt. 1.20; Mc. 5.19; Mt 15. 22; 1 Co 12.3; Mt. 8.6; Lc 2.29; At 4.24; etc).
“Sim, Senhor, Tu sabes que te amo.” (Jo. 21. 15-28).
“Ó Soberano, Tu fizeste os céus, a terra, o mar e tudo o que neles há!” (Atos 4.24).
5) Quando se é apresentado a alguma autoridade terrena, dirige-se a ela por seu pronome de tratamento devido como “Vossa Excelência”, “Vossa Beneficência”, “Excelentíssimo”, etc... Por que ao se relacionar a Deus seria usual o tratamento de “Você”?
Assim, apresentados os argumentos do Grupo do João, vamos apresentar o Grupo de Kevin.
Grupo de Kevin
As pessoas deste grupo acreditam que Deus deve ser chamado de Senhor, defendem a reverência a Ele e concordam com todos os argumentos postos acima. No entanto, também acreditam que chamar a Deus de “Você” não incorreria em algum tipo de pecado ou contrariedade. Além disso, em geral, defendem a ideia de que tal prática vem de um ato costumeiro de se estar relacionando e conversando com Ele o tempo todo, de maneira informal, casual e espontânea.
Em relação à música, encontra-se outro argumento diferente do levantado acima. Dessa vez, em relação aos termos técnicos. Muitas músicas aqui do Brasil são versões tiradas de canções em inglês. Pois bem, nessa tradução do inglês para o português, a palavra “Você” cabe melhor na música, em sua maioria (melodicamente falando), do que “senhor”, na tradução da palavra “you”. Além disso, a tradução literal para o português de “you” é “Você” e não “senhor” que seria “Lord”, por exemplo. Para resumir, vou deixar aqui o vídeo do Brunão Morada que resume tudo isso. Clica aqui se quiser assistir agora.
Por fim, também existiria o uso do “Tu”, que para o Grupo do João e do Kevin estaria tipo “ok” de se usar. Assim sendo, aparentemente estaria “tranquilinho” usar o “Tu”. Aliás, os nossos grupos chegaram a alguma conclusão. Não é mesmo? Não.
Tu X Você
Pra começar, tenho a dizer que o uso do “Tu” não é por nenhum motivo bíblico. Pode ser considerado uma razão meramente cultural, veja:
1) Tudo começa em Portugal. Lá o uso do “Tu” é muito comum. Até hoje, é muito raro Você ouvir alguém se dirigindo a outrem por “Você”. Temos que nossa primeira tradução da bíblia para a nossa língua foi feito por João Ferreira de Almeida (1628-1691). Adivinha? Ele não era brasileiro, mas, um português, de Portugal, país onde nasceu e cresceu. Seria normal se considerar que tal autor escolheria o termo “Tu” para se dirigir a Deus, como é o costumeiro em seu país.
As outras versões mais atuais como Almeida Revista e Corrigida (ARC), Almeida Revista Atualizada (ARA) e Nova Versão Internacional (NVI) mantiveram o uso da palavra “Tu”. Vale destacar que a Bíblia Judaica Completa não usa o “Tu”, mas sim a palavra “Você”, para os mesmos textos.
2) A palavra “Você” não surgiu do nada. Ela surgiu de um encurtamento de “vossa mercê”, que virou “vosmecê”, “vancê” e, por fim, “Você”. Além disso, “vossa mercê” significa “vossa graça”, “vossa misericórdia”. Não seria esse um significado de Deus para os Cristãos? Jesus é a própria Graça de Deus derramada por nós na cruz.
3) Além disso, a palavra “vossa mercê” (“Você”) era usada para se tratar pessoas a quem se deveria dar muito respeito. Mercê era o elevado tratamento dado aos reis de Portugal. O mesmo título era empregado no tratamento às pessoas da família real, nobres e fidalgos. Já a palavra “tu” era usado em ocasiões informais e reservado ao tratamento de burgueses e populares. As pessoas inferiores em dignidade respondiam como “tu” ou “vós” (sobrinhos para tios, criados para patrões, etc..).
Tendo visto esses argumentos, precisamos buscar respostas na BÍBLIA. O que os textos originais nos indicam? Retirei o escrito abaixo do site APENAS1. Veja:
“Um exemplo seria a ocasião em que Pedro responde a Jesus quando o Mestre lhe pergunta três vezes se ele o ama (Jo 21.15-18). A resposta de Pedro é: “Sim, Senhor, Tu sabes que te amo”. O vocábulo original das Escrituras traduzido aqui por “tu” é su, que, no grego, refere-se à segunda pessoa do singular. Mas veja que revelador: Jesus, ao conversar com Pedro, usa exatamente a mesma palavra, su, para se dirigir a ele, como em “Respondeu Jesus: ‘Se eu quiser que ele permaneça vivo até que eu volte, o que lhe importa? Siga-me Você‘” (Jo 21.22-23). Embora a tradução da NVI use “tu” quando Pedro se dirige a Jesus e “Você” quando Jesus se refere a Pedro, nas línguas originais não há nenhuma diferença na forma de tratamento: é exatamente a mesma palavra, sem distinção.
Na ocasião do batismo de Jesus, ele chega até João Batista, que lhe diz: “Eu preciso ser batizado por ti, e Tu vens a mim?” (Mt 3.14). A palavra original que foi traduzida aqui por “tu” é, novamente, su. Quando Jesus está diante de Pilatos, o governador romano lhe pergunta: “Então, Você é rei!” (Jo 18.37). Adivinha que termo no original em grego foi traduzido por “Você”? Exato: o mesmo su. E sabe o que Jesus responde? “Tu dizes que sou rei” (Jo 18.37). A palavra original? Su de novo.
O que percebemos, então, é que o tempo todo Jesus era tratado por su e tratava os outros por su (evidentemente estou me referindo ao grego em que foi escrito o Novo Testamento e não ao aramaico que Jesus e seus discípulos usavam para conversar entre si ou ao latim que Pilatos falava).
Você poderia argumentar que Jesus estava sendo tratado assim porque ele não era visto como divino pelas pessoas, naquele momento e, por isso, não seria considerado digno de um tratamento mais elevado. Bem, esse argumento desmorona quando vemos a forma como o próprio Cristo se dirige ao Pai. Quando o Mestre está no Getsêmani, antes de sua prisão, ele ora e diz ao Todo-poderoso: “Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que Tu queres” (Mc 14.36). Basta olharmos nos originais e veremos que a forma de tratamento permanece a mesma: su. E o Pai é tratado dessa forma ainda em outras passagens, como João 17.21, e não só por Jesus. Vemos, por exemplo, em Atos 4.24, Pedro e João conduziram uma oração ao Pai, em que dizem “Ó Soberano, Tu fizeste os céus, a terra, o mar e tudo o que neles há!”. Por que pronome eles o tratam? Su.
A que conclusão podemos chegar? Constatamos que, na língua original em que foi escrito o Novo Testamento, o mesmo pronome de tratamento era utilizado quando Jesus se dirigia a um ser humano, quando um ser humano se dirigia a Jesus, quando Jesus se dirigia ao Pai ou quando um ser humano se dirigia ao Pai. Não havia distinção em nenhuma situação.”
NOSSA CONCLUSÃO
Em primeiro lugar, quanto à originalidade do Novo Testamento, parece não haver diferença em usar o mesmo pronome para se dirigir a um ser humano, ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo. Em todas as ocasiões usava-se o “su” (que Ferreira de Almeida traduzira como “Tu”). Também em relação à originalidade, chamar Deus de “Tu” não é algo mais especial ou superior do que chama-Lo de “Você”; como vimos, bem pelo contrário. Por essas razões, “Tu” e “Você” seriam igualmente válidos uma vez que segundo as línguas originais, não se faz diferença na sua aplicação.
Logo, pensando bem em tudo o que aprendemos aqui, se dirigir a Deus por “Tu” e não olhar com bons olhos o que O chama de “Você” seria um pouco forte demais, ou até mesmo, cínico, não é mesmo?
Em segundo lugar, deve-se sempre ter reverência para se achegar a Deus. Mas há de se dizer que ela está muito acima das palavras. Qual seria o mais aceitável? Se achegar a Deus o chamando de “Você” com muito temor e sinceridade no coração ou chama-Lo de “Senhor” como os fariseus faziam? (Mt 7. 21-23) E quem pode conhecer o coração do homem e suas reais intenções? Apenas Deus (Sl 139).
Além disso, também existe a questão da chamada “perspectiva de vida”, da criação de cada pessoa. Veja, João pode ter crescido com um pai que o ensinou a chama-lo de “senhor” enquanto o pai de Kevin não fazia tanta questão assim. Ambos eram amigos de seus pais. “Você” e “senhor”, neste caso, estão sendo palavras usadas cujos sentimentos, reverência, honra, (etc) de João e de Kevin aos seus pais não se diferenciam.
Queremos deixar claro aqui que este texto foi construído de forma a mostrar ambos os lados e nossa sugestão para Você leitor, é a mesma que tomamos para nós:
1º A Jesus seja todo o louvor. A Ele a adoração e toda a nossa reverência e submissão.
2º O único capaz de sondar os corações, é Deus. (Sl 139)
3º Seja a Paz de Cristo o árbitro em seu coração. (Cl 3.15) Discirna em seu coração. Se Você não sente Paz em chamar Deus de “Você”, caso se sinta sendo desrespeitoso, não o chame. Caso sinta liberdade e Paz em chama-lo de “Você”, chame. Isso não pode mudar a relação entre vocês. Busque a Ele e o questione sobre isso.
4º No caso de uma ministração (louvor ou palavra) na sua comunidade de fé, que não aceite, sugerimos que NÃO o chame de “Você”. Já sabe que este tema é polêmico. Deve-se evitar ao máximo escandalizar os demais (mesmo que Você não esteja errado). O amor deve estar acima de tudo. Temor com tudo. Amor com todos.
Shalom! uffa.. esse deu trabalho heim rsrs





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